terça-feira, 24 de novembro de 2009

Juventude e narcisismo

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos abaixo e em sua bagagem de informação, redija uma dissertação em prosa sobre o tema:

O que há por trás da supervalorização da própria imagem?

Texto 1:

“Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre

minhas próprias margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos minha própria beleza refletida.” - Lenda de Narciso

Texto 2:

A mídia tem se munido das diversas formas de linguagem para ditar a moda, as regras e valores para a sociedade. A massificação das idéias pela mídia tem distanciado as pessoas da prática da reflexão e do exercício do pensar, uma vez que elas recebem as informações prontas e acabadas, não as refletindo, nem trocando idéias a respeito do que estão recebendo, principalmente a juventude que, na maioria das vezes, ainda não dispõe de um arcabouço teórico-cultural para se desvencilhar de tamanha manipulação.

Com o advento da Internet e de outras mídias é notável o avanço com que as imagens digitais circulam, seja através da tela do computador, seja pela tela do celular.

Segundo Pierre Levy em O que é virtual, “O ciberespaço abre de fato um mercado novo, só que se trata menos de uma onda de consumo por vir que da emergência de um espaço de transação qualitativamente diferente, no qual os papéis respectivos dos consumidores, dos produtores e dos intermediários se transformam profundamente.(…) Os produtos e serviços mais valorizados no novo mercado são interativos, o que significa, em termos econômicos, que a produção do valor agregado se desloca para o lado do consumidor, ou melhor, convém substituir a noção de consumo pela de co-produção de mercadorias ou serviços interativos.”

Os primeiros relatos sobre a fotografia datam da Grécia Antiga, aproximadamente em 350 a.C. Nessa época eles já conheciam a produção de imagens através da passagem da luz por um pequeno orifício. No século XIX, a fotografia passa a ser registrada da forma tradicional tal como a conhecemos hoje.

No século XXI, a câmera digital passa a ser comercializada e populariza a fotografia. A princípio ainda como objeto de alto valor agregado e atualmente de fácil aquisição, inclusive, presente em celulares.

Dentro desse contexto, a juventude lida de forma íntima com a fotografia digital, tanto por essa ser mais ágil quanto pela possibilidade de utilizar programas de edição de imagens e pelo fato de ser mais cômodo.

A tecnologia digital possibilita ao usuário, a partir de uma seleção de fotos, fazer inclusive seu próprio filme. Isso é bastante observado em sites interativos como Orkut, MSN, Fotolog, YouTube dentre outros.

Buscamos apresentar ao usuário contemporâneo formas e recursos lúdico-criativos de utilizar a imagem digital na ampliação das possibilidades de novos olhares sobre o real a partir da leitura de imagens digitais de cenas do cotidiano. Deseja-se fugir do estereótipo do eu-narcisista, uma vez que isso é observado nos ambientes virtuais já citados, no qual encontramos na maioria das vezes auto-retratos, desfocando o olhar do educando para outras imagens.

Em uma sociedade na qual, como já foi explicitado, o dito popular “uma imagem vale por mil palavras” tem sido cada vez mais literalmente interpretado pelos jovens, cabe aos educadores, enquanto também responsáveis pela formação desses novos usuários do hipertexto, instrumentar-se para lidar de maneira não-preconceituosa com as questões advindas dessas tecnologias.

Desfocar o olhar do aluno significa fazê-lo interagir com o mundo que o cerca e não apenas, como diz o clichê, “olhar para o próprio umbigo”, ou melhor, para o próprio rostinho captado pela lente digital.

(http://otextolivre.wordpress.com)

Texto 3:

Juventude de Nova Iguaçu usa celulares e máquinas digitais para guardar os bons momentos. - Por: Marcelle da Fonseca Lima

Os celulares usados que o pai de Carolina Fernandes revende sempre despertaram a cobiça da estudante, mas ela só conseguiu realizar o seu sonho de consumo no dia em que ousou pegar um aparelho escondido. “Estou com ele até hoje”, revela com um ar maroto. O pai jamais desconfiou.

O também estudante Giovane Alves dos Santos não cometeu nenhum deslize ético, mas não foi menos trabalhosa a conquista do aparelho que com freqüência usa para fotografar a si mesmo e exibir sua beleza no Orkut para as pessoas que não o conhecem. “Consegui o meu celular com muito suor, juntando o dinheiro que recebia do programa Juventude Cidadã que fiz em 2007”, conta o estudante.

A estudante Natália Stefani Bastos Marques também usa o celular para experiências narcisistas, como a de um dia em que estava sem nada para fazer e resolveu tirar fotos de si mesma. Uma dessas fotos, atualmente exibida no seu Orkut, deixou-a parecida com uma modelo. “Adorei aquela foto”, conta. Mas Natália não usa o aparelho apenas como um espelho. Ela também gosta de registrar os passeios que dá com os pais.

(http://jovemrepórter.blogspot.com)

Texto 4:

Juventude brasileira se afirma como uma “geração vaidosa”

(...) a Music Television (MTV) divulgou, em maio de 2005, resultados de uma pesquisa realizada com 2,3 mil moradores de sete capitais brasileiras com idades entre 15 e 30 anos. Defrontados com uma lista de 16 adjetivos que poderiam caracterizar a sua geração, mais de um terço dos entrevistados (37%) optou pela palavra "vaidade". O "consumismo" veio em segundo lugar. Os jovens brasileiros, segundo o levantamento, preocupam-se com a forma (75% praticam esportes e 31% tentam consumir alimentos dietéticos ou com baixa quantidade de calorias), aprovam as cirurgias plásticas com finalidades estéticas (55%) e se esforçam para estar atualizados com a moda (41% já trocaram de aparelho celular de duas a três vezes). Outro dado impressionante: 60% concordam que "pessoas bonitas têm mais oportunidades na vida". A pesquisa – feita em parceria com o instituto Datafolha – entrevistou jovens das classes A, B e C, das cidades de São Paulo (e interior do estado), Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Resultados - Entre os anos de 2002 e 2003, o número de jovens que se submeteram a cirurgias plásticas no País cresceu 45%, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. Mais de 11% do total de plásticas realizadas no Brasil são feitas em pacientes de até 20 anos. Nos Estados Unidos, esse número não passa de 7%. Pesquisa feita pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estudou hábitos de consumo de jovens de diversos países e concluiu que, entre os que disseram "interessar-se muito por compras", a maior porcentagem era de brasileiros: 37%. Os franceses vieram em segundo lugar, com 32%, seguidos pelos japoneses, 31%. Consumismo e vaidade adolescentes vêm sendo retratados com freqüência em programas de TV dirigidos ao público jovem. Na própria MTV existe um programa inspirado nos reality shows norte-americanos dedicados a mostrar as milagrosas transformações de que são capazes um bom bisturi e um alentado pacote de sessões dermatológicas. O Missão, apresentado pela modelo Fernanda Tavares, patrocina banhos de loja e imersões em salões de beleza a candidatos à metamorfose. O aumento da vaidade masculina foi uma das descobertas mais notáveis da pesquisa da MTV. Segundo o estudo, 37% dos adolescentes e jovens do sexo masculino cuidam das unhas, 28% usam cremes no rosto, 25% pintam o cabelo e 22% fazem limpeza de pele.

Conclusão: se o universo adolescente vem dando mostras de um narcisismo exacerbado e de um consumismo exagerado, a responsabilidade por isso é, antes de tudo, dos adultos. "Os próprios pais desses adolescentes estão muito preocupados com a aparência. A deles e a dos filhos. Muitos cobram das crianças que sejam magras, bonitas e bem-vestidas o tempo todo", afirma a psicóloga Ceres Alves de Araujo.

Opinião – Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Gilberto Dimenstein comenta os resultados da pesquisa promovida pela MTV. Para ele, o principal resultado desse perfil é ter detectado até que ponto vai a reverência exacerbada à beleza física. “Por que está ocorrendo essa ‘epidemia da beleza’? A resposta é óbvia – e nós da mídia somos, em parte, responsáveis por isso. Há uma supervalorização da aparência. Seres anoréxicos e fúteis, quase inumanos, como Gisele Bündchen, são apresentados como padrão de beleza e de sucesso. A mídia, por sua vez, não se limita a fotografá-los, mas freqüentemente busca suas opiniões sobre os mais diversos temas”, afirma o artigo. Segundo o jornalista, o que se vê atualmente é o “domínio da fugacidade”. A mensagem predominante, continua o texto, é a do consumismo como fonte de prazer e de realização. Vale perguntar se esse imediatismo não é um estímulo ao consumo de drogas. Em comparação com o levantamento realizado em 1999, houve uma redução do número de jovens dispostos a realizar trabalhos comunitários. Na opinião de Dimenstein, algo facilmente explicável: “na lógica do narcisismo, o outro só serve de espelho”. “Podem me chamar de nostálgico, mas, se ser jovem é ficar obcecado pela beleza e viver em regime alimentar ou achar que se comunicar é ficar na frente de um computador, prefiro ser velho. Sou dos que acham que um dos bons prazeres da vida é ouvir, pessoalmente, sem tela nem terminais, conversa de gente falando das dores, delícias e encantamentos das experiências”, conclui.

(http://www.integral.br/noticias/noticias)

Texto 5:

“Essa geração tem câmera digital e a usa como espelho. Olham-se nas fotos e também olham para o outro, para descobrir quem são. (...) Nunca a imagem foi tão importante para fazer parte de grupos. A foto de si serve para dizer ‘estive lá’, ou ‘estive com eles’.

(Carmem Rial, coordenadora do Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem da Universidade Federal de Santa Catarina)

Texto 6:

È um ótimo exercício para a auto-estima.

(Marcelo De Biaggi, cabeleireiro de celebridades)

Texto 7:

É uma estupidez enorme tirar autorretrato.

(J.R. Duran – fotógrafo)

Texto 8:

Eu Me Amo

Ultraje a Rigor

Há quanto tempo eu vinha me procurando

Quanto tempo faz, já nem lembro mais

Sempre correndo atrás de mim feito um louco

Tentando sair desse meu sufoco

Eu era tudo que eu podia querer

Era tão simples e eu custei pra aprender

Daqui pra frente nova vida eu terei

Sempre a meu lado bem feliz eu serei

Refrão

Eu me amo, eu me amo

Não posso mais viver sem mim

Como foi bom eu ter aparecido

Nessa minha vida já um tanto sofrida

Já não sabia mais o que fazer

Pra eu gostar de mim, me aceitar assim

Eu que queria tanto ter alguém

Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém

Longe de mim nada mais faz sentido

Pra toda vida eu quero estar comigo

Refrão

Foi tão difícil pra eu me encontrar

É muito fácil um grande amor acabar, mas

Eu vou lutar por esse amor até o fim

Não vou mais deixar eu fugir de mim

Agora eu tenho uma razão pra viver

Agora eu posso até gostar de você

Completamente eu vou poder me entregar

É bem melhor você sabendo se amar


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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Especial - Terra

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Os textos selecionados abaixo refletem sobre uma importante questão – ainda sem solução no Brasil: o direito à terra, que ao longo de décadas se arrasta vitimando milhares de pessoas. Na verdade, a disputa nasce há séculos, com a divisão do país em capitanias hereditárias que dão origem às grandes propriedades, os latifúndios. Num momento em que se coloca o país na condição de 1ª. Classe, urge questionar práticas que ainda são disseminadas por uma cultura de “senhores de engenhos”, pela política dos “coronéis” em pleno século 21.
Com base nas informações da coletânea e em sua bagagem de informação, redija uma dissertação sobre o tema:

O direito à terra no Brasil: realidade ou utopia?

Texto 1:

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
(...)
(Morte e Vida Severina – João Cabral de Mello neto)

Texto 2:

Morte e Vida Severina
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida

É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)

Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca

Texto 3:

Cartilha Cidadania para Todos

5
DIREITO À TERRA

A Terra é um direito fundamental do homem. Para o homem garantir a vida, ele precisa da terra. A sobrevivência do homem depende do modo como este trata a terra e dela tira seu sustento. Para isso desde os primórdios da humanidade que o homem luta pelo acesso à terra.

No Brasil, as lutas e os movimentos sociais que buscam conquistar o Direito à terra , ainda enfrenta muita violência social e institucional. Daí a necessidade de mecanismos de proteção e defesa no tocante a questão agrária no país, a exemplo do Estatuto da Terra, a Constituição federal e mais recentemente a Lei Complementar 8.634/93.



- Estatuto da Terra – Lei No. 4.504/64 em seu artigo 2º afirma:

"é assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista na lei.

§1º A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente:

favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias;

mantém níveis satisfatórios de produtividade;

assegura a conservação dos recursos naturais;

observa as obrigações legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivam."

Ao tratar da propriedade no capítulo dos Direitos fundamentais das Pessoas – o art. 5º, inciso XXII, a Constituição federal estabelece o princípio que lhe garante a proteção do Estado-jurisdição, qual seja, o cumprimento da função social.

A Constituição assegurou a todos, o acesso a propriedade, desde que a mesma cumpra certos requisitos para receber a proteção legal. Diz o art.5º , inciso XXII e XXIII:

(...)

XXII – é garantido o direito de propriedade;

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social."



Sobre o cumprimento da função social da propriedade, a Constituição Federal em seu art. 186º afirma:

"A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Ainda a respeito da função social da propriedade, o art. 184º estabelece:

"Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei."

(Cartilha Cidadania para Todos – http://www.dhnet.org.br )


Texto 4:

O discurso sobre o MST na imprensa e nos setores dominantes da sociedade busca deslegitimar a luta pela terra, além de criminalizar e "satanizar" o movimento. Na tese de doutorado O discurso do conflito materializado no MST: a ferida aberta da nação, a pesquisadora Lucília Maria de Sousa Romão buscou entender o discurso sobre o Movimento, relacionando-o a episódios históricos como os quilombos, Canudos, o Contestado e Ligas Camponesas demonstrando que o mesmo funcionamento discursivo vem ocorrendo de maneira similar nos últimos 500 anos. O estudo foi apresentado no Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLCRP) de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
(...)

Trabalhando com uma metodologia de tradição francesa de análise de discurso, a pesquisadora, formada em Letras, dividiu os veículos pesquisados em dois tipos: os de "formação discursiva dominante", que para ela detêm o aparato jurídico que lhes dá sustentação e são representados pela grande imprensa; e os de "formação discursiva dominada", em que ela inclui o próprio jornal do MST e a revista Caros Amigos, que se instalam na região de sentido oposta às visões estabelecidas e procuram dar legitimidade à luta política e à legalidade do movimento da luta pela terra.

"A partir da década de 80, o MST representou uma ruptura com o discurso dominante que garantia a manutenção da terra nas mãos de alguns. Hoje, o movimento tem um estatuto simbólico e discursivo muito forte", afirma a professora.
(...)

Registros do passado
Segundo a pesquisadora, o tratamento dado ao movimento pelo discurso dominante não difere essencialmente daquele dirigido aos negros dos quilombos ou aos rebeldes de Canudos, aos caboclos do Contestado e às lideranças das Ligas. "Vimos isso quando o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o MST não passava de meia dúzia gatos pingados, ou quando uma revista (des)qualificou o movimento, chamando-o de "quadrilha". Achamos exatamente os mesmos termos e o mesmo funcionamento discursivo nos recortes das lutas do passado", afirma.

De acordo com o estudo, a diferença do MST em relação aos seus predecessores, é que o movimento é mais organizado, mais numeroso, mais descentralizado (portanto menos regional) e seu discurso tem mais visibilidade. "Mas o discurso de luta pela terra sempre existiu e sempre foi negado pelo sentido oficial."

Outra diferença, segundo Lucília, é que todos os demais movimentos sofreram não apenas ataques e acusações no âmbito do discurso, mas foram literalmente exterminados. "Além da manobra retórica, sempre existiu um massacre no plano real. Os quilombos eram dizimados; no Contestado, bombardearam os núcleos caboclos com avião italiano; em Canudos, todos foram degolados, os líderes das Ligas foram presos. Sempre houve uma reação bélica, militar, coercitiva, muito mais efetiva no passado", diz. "É verdade que aconteceram massacres como Eldorado dos Carajás, Corumbiara e outros, mas trata-se de outra escala."

Na visão da pesquisadora, a "satanização" promovida pelo discurso oficial vigente começou com o movimento dos quilombos. "Fui buscar nas canções dos negros o desejo da terra e, nos registros de cartas dos fazendeiros, a mesma perspectiva, quando já eram utilizados os termos 'baderneiros' e 'quadrilha' para denominar os cativos que fugiam em busca da liberdade."

A pesquisa também analisou o levante dos camponeses suíços de Ibicaba, no final do século XIX. "Foi o primeiro movimento em que os camponeses se organizavam em torno de um estatuto, e também o primeiro registro documentado da luta pela terra". Lucília teve acesso a abaixo-assinados, cartas e atas de reunião do movimento. "Tem-se ali a formação discursiva dominada, que foi violentada e desumanizada em sua condição de miséria e busca de um lugar na legalidade."

Do outro lado, foram pesquisados discursos, cartas e documentos da fazenda do senador César Vergueiro, que mostravam o sentido do direito sagrado da terra, caracterizando o discurso dominante. No conflito de Canudos, segundo Lucília, acontece o mesmo confronto. "Não pude analisar com profundidade os textos escritos por Antônio Conselheiro, mas consegui valiosos registros de depoimentos, cartas e recortes de jornal, além da contribuição de autores como Euclydes da Cunha e Manoel Benício."


(O título deste texto é da Altiplano e a reportagem da Agência USP, em dezembro de 2002 - http://www.altilano.com.br/mst.html)


Texto 5:
(...)

Trata-se de O Massacre – Eldorado do Carajás: uma história de impunidade (Planeta, 2007), de Eric Nepomuceno, jornalista, escritor e tradutor respeitado por seu trabalho e pela coerência e retidão com que o desempenha. A obra, que conta com um belo projeto de miolo e de capa, traz fotos de Sebastião Salgado, fotógrafo mineiro reconhecido mundialmente por seu estilo singular de captar imagens e momentos, sem dúvida um dos mais respeitados repórteres fotográficos da atualidade, com atuação marcada principalmente por voltar suas lentes para a vida daqueles que vivem à margem da sociedade, dos excluídos em geral.
Ao avançar pelas primeiras páginas de O Massacre, o leitor logo percebe a profundidade do mergulho que está prestes a dar na história contemporânea do Brasil – e também que está diante de um iminente clássico desta. Ao longo das cinco décadas de premiação do Jabuti, criadores e criaturas entraram para a história literária brasileira, como Jorge Amado, premiado na categoria romance na primeira edição do concurso, por Gabriela, Cravo e Canela. Eric Nepomuceno, a seu modo, arrisca-se certamente a trilhar caminho semelhante.
Uma vez iniciada a leitura, embarca-se em uma viagem no tempo de cerca de onze anos. Chega-se à tarde do dia 17 de abril de 1996. O leitor é também levado a viajar no espaço – sem sair do lugar, é claro – rumo à região Norte do Brasil. Mais precisamente, até a margem da rodovia PA-150, a escassos quilômetros de Eldorado dos Carajás, no local conhecido como Curva do S. Lá, uma marcha pacífica organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com cerca de 2500 trabalhadores oriundos da ocupação da fazenda Macaxeira, rumava para Belém a fim de levar suas reivindicações ao governo estadual. No caminho, porém, decidiram bloquear a estrada como forma de protesto ante o descaso das autoridades em relação às suas reivindicações, que incluíam comida e ônibus para que chegassem à capital paraense.
A estrada seria desobstruída com brutalidade: cerca de 150 policiais militares – armados inclusive com itens alheios ao seu arsenal, como foices e carabinas – promoveram uma verdadeira matança, abrindo fogo contra uma multidão indefesa, em que havia até mesmo mulheres e crianças. Do lado dos sem-terra, dezenove foram os mortos e 69 os feridos – dos quais três viriam a falecer posteriormente em decorrência de complicações causadas pelos tiros. Isso sem contar os traumas psicológicos e os fantasmas da lembrança, que assombram até hoje os dias e as noites de grande parte dos sobreviventes. Do lado policial, onze foi o número de feridos, mas, ao contrário da versão que as elites locais ensaiaram sustentar à época, não houve confronto. Eric é categórico: essa classificação é um atrevimento, o que houve de fato foi uma carnificina premeditada, em que praticamente todos os mortos o foram com os mais macabros requintes de crueldade.
Do poder público, não haveria nada a esperar. Este tinha lado na trincheira. Foi do então governador do Pará que partiu a ordem para a ação da polícia. Os grandes proprietários de terra tinham muita influência nas decisões políticas, e os seus interesses eram os que prevaleciam. A relação era mesmo promíscua: os fazendeiros eram acusados ainda de ter criado um fundo para auxiliar a PM no combate aos sem-terra. Ao final do festival de horrores, conta-se, deram até festa para comemorar o "sucesso" da operação – no caso, tirar a vida dos dirigentes do movimento. Infelizmente, os assassinos teriam mesmo muito a comemorar.
Após dois inquéritos – um militar e um civil – e julgamentos obscuros, somente duas pessoas seriam condenadas: um coronel da PM e seu subordinado de maior patente. Ambos ficaram nove meses recolhidos em estabelecimentos da polícia. Hoje, estão em liberdade. De resto, estão todos livres, leves e soltos. Daí ser o livro de Eric indispensável. Segundo o próprio, ele não tem a intenção de revelar informações bombásticas, mas de recordar um evento brutal e de soprar as brasas desse trágico momento para que as lembranças não virem cinzas mortas.
Apesar de hoje o MST reconhecer ter errado em sua avaliação – segundo Nepomuceno, os dirigentes achavam que as matanças haviam sido suspensas e que havia espaço para radicalização –, é possível fazer um balanço equilibrado e ponderar que resultados foram obtidos com a marcha: se, por um lado, ficaram os traumas e as famílias dilaceradas, por outro, o governo federal do então presidente Fernando Henrique Cardoso foi levado a desocupar a Macaxeira, a instalar o assentamento e a mudar a sua política com relação à reforma agrária frente à pressão da opinião pública. O assentamento se estruturou, superou a agricultura de subsistência e é hoje referência na luta pela democratização da terra. Foi também do massacre que surgiu o chamado "Abril Vermelho", jornada de ocupações promovida pelo MST no mês de abril para exaltar a resistência daqueles que perderam a vida lutando por dignidade. E, além disso, a partir de então o 17 de abril passou a ser o Dia Mundial de Luta pela Terra.
(http://www.correiocidadania.com.br)

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domingo, 8 de novembro de 2009

O automóvel

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos oferecidos na coletânea abaixo, redija uma dissertação sobre o tema:

Automóvel: necessidade ou afirmação?

Texto 1:

“O automóvel é, para Baudrillard, um dos mais importantes signos de nosso tempo e seu papel na produção do imaginário tem profunda repercussão sobre o conjunto da vida do homem, incluindo a redefinição da sociedade e do espaço. As cidades não seriam hoje o que elas são se o automóvel não existisse. Os homens acabam considerando o automóvel como indispensável e esse dado psicológico torna-se um dado da realidade vivida. Ilusão ou certeza, o automóvel fortalece no seu possuidor a idéia de liberdade do movimento, dando-lhe o sentimento de ganhar tempo, de não perder um minuto, neste século da velocidade e da pressa. Com o veículo individual, o homem se imagina mais plenamente realizado, assim respondendo às demandas de status e do narcisismo, característicos da era pós-moderna. O automóvel é um elemento do guarda-roupa, uma quase-vestimenta. Usado na rua, parece prolongar o corpo do homem como uma prótese a mais, do mesmo  modo que os outros utensílios, dentro de casa, estão ao alcance da mão.”

(MILTON SANTOS em  “A Natureza do Espaço”)


Texto 2:
O automóvel e o desgaste social
Tatiana Schor - Economista, mestre em Geografia Humana, FFLCH-USP

(...)

O automóvel é outro importante exemplo. Para muitas pessoas, imaginar o mundo sem esta máquina é impossível. Trata-se já de uma necessidade social. Tal como no caso da luz elétrica, a utilização do automóvel vai levando ao esquecimento as formas anteriores de locomoção; hoje, considerando o processo crescente de urbanização, é provável que mais gente saiba ligar um carro do que arrear um cavalo. O gesto de ligar o automóvel é mais simples do que o de arrear o cavalo, apesar do fato de compreendermos melhor o funcionamento da locomoção a cavalo que o de um cada vez mais complicado motor de carro (o mesmo pode ser dito para a luz: é mais fácil acender a luz elétrica do que o fogo, mas o funcionamento do fogo é de mais fácil compreensão do que a geração, distribuição e fornecimento da rede elétrica). Por isso, podemos chamar de invisível o processo que revoluciona os atos e desencadeia inúmeros efeitos sucessivos — pelo fato de que o ato mais simples esconde um funcionamento mais complexo. É neste processo que o sonho (da simplificação da vida) e o desejo (de consumo) tornam-se uma necessidade.
(...)

Esta visibilidade dos limites da utilização do objeto técnico ocorre quando ele deixa de ser um apoio ao desenrolar da vida, passando a ser um entrave. Entrave esse que começamos a observar, por exemplo, com o uso do automóvel na cidade de São Paulo. Esta visibilidade vem do fato de que seu uso como meio de transporte, como objeto técnico, está cada vez mais travado, pois o crescente número de congestionamentos impede seu funcionamento. Como algo natural e orgânico, o automóvel passa a ser vivido como um problema, gerando desconforto e mal-estar, e deixando de ser invisível para tornar-se insuportavelmente visível.

(...)

Esta sociedade tem como fim em si mesmo a valorização objetivada no consumo individual, que, por sua vez, reflete a mesma objetivação na sociedade. Consome-se mais do que se apropria. É um consumo como fim em si, isto é, muitas vezes privilegia o ato da compra ou a propriedade em detrimento da utilidade do objeto a ser consumido. É possível observar na sociedade urbana uma cisão entre apropriação e consumo. O consumo se autonomiza da apropriação inerente a ele, transformando-se em uma simulação do uso que porta outro fim: a ostentação do valor monetário que o objeto comprado representa. Neste sentido, no seu limite, este uso ostentatório transforma-se em consumo do espetáculo da própria sociedade. É o consumo consumindo a si mesmo sem objeto a ser apropriado. Um exemplo quase caricatural desta forma de uso são os colecionadores de Mercedes e Jaguar, que têm mais automóveis na garagem que pessoas na casa. Assim, uma crítica ao consumo simulado é uma crítica ao uso ostentatório.

O espetáculo (Debord, 1992) é o consumo nas suas derivações mais fetichizadas: não há apropriação, apenas contemplação. O automóvel é uma mercadoria que contém em si tanto a apropriação do objeto (sua funcionalidade) quanto seu uso ostentatório, espetacular (suas outras significações). Para podermos analisar o automóvel, com suas determinações relacionadas ao momento histórico atual, é necessário desvendar essa mercadoria em seus matizes e compreender sua relação com o urbano (que é o pano tecido pela modernização).
(...)
Esta é uma forma de estudar a sociedade contemporânea, visto que o automóvel é um objeto, ou melhor uma mercadoria, que nasce com a industrialização e se desenvolve no e para o urbano. O desenvolvimento simultâneo da indústria automobilística e do capitalismo se expressa inclusive nos termos utilizados para designar maneiras de organizar a produção (fordismo, pós-fordismo, toyotismo). Foi através da necessidade de constituição do sistema automobilístico que se direcionou boa parte do desenvolvimento industrial e planejamento urbano. Suas necessidades técnicas impulsionaram a indústria; suas necessidades de espaço e de movimento veloz, como é o caso de São Paulo, redimensionaram o desenho do urbano. O automóvel, tanto construtor quanto destruidor, encanta o homem.


Texto 3:

A cultura do automóvel

Denomina-se Cultura do Automóvel a importância que o veículo particular assumiu nas sociedades modernas no século 20 (...). O carro é o objeto de consumo mais desejado pela sociedade. A publicidade fala do automóvel como um direito universal, uma conquista democrática. Se fosse verdade e todos pudessem se transformar em felizes proprietários desse meio de transporte, o planeta sofreria de morte súbita por falta de ar. Ou, antes, deixaria de funcionar por falta de energia, afinal resta-nos petróleo para duas gerações apenas.

O automóvel não é um direito universal, e sim um privilégio de poucos. Só 20% da população detém 80% dos carros, embora todos tenham de sofrer as consequências.

(...)

Para vender cada vez mais, a indústria do automóvel está sempre lançando novos modelos, novos desenhos e detalhes, assim como a indústria da moda. O automóvel é mais do que um meio de transporte. Ele é concebido como uma jóia, como um roupa cara e especial, agradável aos olhos do dono e daqueles que o vêem. Seus apelos, na estratégia de marketing, abordam desde a velocidade, potência, aceleração, passando pelo conforto de estar dentro da máquina: ar condicionado, direção hidraúlica, vidros elétricos, som de alta fidelidade e até a preocupação com o cheiro de veículo novo.


(Trechos do livreto distribuído pela BHTRANS nas ruas de Belo Horizonte em sua campanha de conscientização)



Texto 4:

Vocês se lembram daquele velho anúncio dos biscoitos Tostines? Era mais ou menos assim: Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Acho que o excesso de automóveis nas cidades brasileiras é parecido com isso. Será que há carros demais nas cidades porque não existe transporte público de qualidade ou os governantes não investem em transporte público de qualidade porque há carros demais e as pessoas não precisam de transporte público?

Deixando a brincadeira de lado, sabemos que o excesso de automóveis nas grandes cidades e a falta de transporte público de qualidade são problemas gravíssimos e altamente complexos, que desafiam os governantes, prejudicam absurdamente a mobilidade urbana e atormentam diariamente as pessoas, causando imensuráveis malefícios sociais e ambientais, bem como grandes prejuízos financeiros à economia.

Sabemos que o Brasil sempre foi um país rodoviarista, que privilegia as industrias automobilísticas com incentivos fiscais, linhas de financiamento para as montadoras, revendedoras e consumidores, entre outras facilidades. Enquanto isso, os congestionamentos aumentam, a mobilidade urbana está cada vez pior e não há investimentos para o transporte público de massa nas grandes cidades, especialmente em metrôs e trens urbanos.

As grandes cidades brasileiras estão abarrotadas de carros, velhos e novos, que causam os irritantes e nocivos congestionamentos diários. As metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo estão prestes a parar, pois as velocidades médias registradas, em grande parte dos dias, estão entre 10 e 15 km/h, com previsão de chegar a 7,5 km/h, daqui a alguns anos.

São Paulo, por exemplo, possui uma frota registrada de 6,2 milhões de veículos, que é responsável por aqueles engarrafamentos recordes que chegam a 200 quilômetros, em determinados dias. Há muitos carros em péssimo estado de conservação que prejudicam ainda mais o trânsito. Cerca de 50% dos veículos de SP estão com mais de 10 anos de idade. Em média, a cada 5 minutos, um carro enguiça e causa 3,5 quilômetros de congestionamento. As principais razões são falhas mecânicas, pane elétrica e pneu furado. Em SP, são registrados 800 novos carros por dia, que ajuda a aumentar a média diária de 144 km de vias congestionadas, no pico da tarde, e os recordes batidos várias por ano. A velocidade nos horários críticos não ultrapassa os 20 km/h. O transporte individual predomina em SP, pois são registrados 1,9 habitantes por veículo, provando, assim, a predominância do automóvel e a carência de transporte público de qualidade.

Não sou contra o automóvel, pelo contrário, gosto muito de possuir um bom carro e acho que todos têm o mesmo direito. O problema é como conciliar e otimizar o binômio automóveis - transporte público. O grande desafio é a criação de um modelo para o uso racional do automóvel e o acesso democrático ao transporte público de qualidade.


Texto 5:

O Calhambeque  - Roberto Carlos
Composição: Gwen Loudermilk / John Loudermilk/ Versão : Erasmo Carlos

-"Essa é umas das muitas histórias
Que acontecem comigo
Primeiro foi Suzy
Quando eu tinha lambreta
Depois comprei um carro
Parei na contra-mão
Tudo isso sem contar
O tremendo tapa que eu levei
Com a história
Do Splish Splash
Mas essa história
Também é interessante"

Mandei meu Cadillac
Pr'o mecânico outro dia
Pois há muito tempo
Um conserto ele pedia
E como vou viver
Sem um carango prá correr
Meu Cadillac, bi-bi
Quero consertar meu Cadillac
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Com muita paciência
O rapaz me ofereceu
Um carro todo velho
Que por lá apareceu
Enquanto o Cadillac
Consertava eu usava
O Calhambeque, bi-bi
Quero buzinar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Saí da oficina
Um pouquinho desolado
Confesso que estava
Até um pouco envergonhado
Olhando para o lado
Com a cara de malvado
O Calhambeque, bi-bi
Buzinei assim o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

E logo uma garota
Fez sinal para eu parar
E no meu Calhambeque
Fez questão de passear
Não sei o que pensei
Mas eu não acreditei
Que o Calhambeque, bi-bi
O broto quis andar
No Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

E muitos outros brotos
Que encontrei pelo caminho
Falavam: "Que estouro
Que beleza de carrinho"
E fui me acostumando
E do carango fui gostando
E o Calhambeque, bi-bi
Quero conservar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Mas o Cadillac
Finalmente ficou pronto
Lavado, consertado
Bem pintado, um encanto
Mas o meu coração
Na hora exata de trocar
Aha! Aha! Aha! Aha! Aha!
O Calhambeque, bi-bi
Meu coração ficou com
O Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

-"Bem! Vocês me desculpem
Mas agora eu vou-me embora
Existem mil garotas
Querendo passear comigo
Mas é por causa
Desse Calhambeque
Sabe!
Bye! Eh! Bye! Bye!"
Arrãããããããããmmmm!

Texto 6:

Perguntas respondidas

"Quem dirige este carro, fez por merecer". Você se sente ofendido com esta frase? Por quê?

O anúncio veiculado no Brasil de um carro de 80 mil reais ou mais, traz uma frase que diz: "Quem dirige este carro, fez por merecer".
Esta frase, no Brasil pode questionar o significado da palavra MÉRITO.
Qual é o seu mérito????
Questiona O QUE SE PODE FAZER para obter o merecimento.
Eu mereço mas não posso.
Eu posso, mas não mereço.
E assim vai.

(resposta de um internauta, ao comentar a campanha publicitária do Ford Fusion em 2008))


terça-feira, 3 de novembro de 2009

A prova da Unicamp

Apresentação da coletânea:

O escritor russo, Dostoievski declarou: Se um grande povo não acreditar que a verdade somente pode ser encontrada nele mesmo, se ele não crer que ele apenas está apto a se erguer e a redimir a todos por meio da sua verdade, ele prontamente se rebaixa à condição de material etnográfico, e não de um grande povo. Uma Nação que perde essa crença deixa de ser uma nação.
O tema da redação é o Brasil. Abaixo, a coletânea aborda várias visões do país e de seu povo em diferentes momentos. Utilize-a para elaborar uma das propostas sugeridas:

Coletânea:

Texto 1:
“Nela, até agora,não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem”.
(...)
“Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute, bastaria, quanto mais disposição para se cumprir nela e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, ou seja: acrescentamento da nossa Santa Fé.”

(carta de pero Vaz de Caminha)

Texto 2:
“...para este gênero de gente não há melhor pregação do que espada e vara de ferro.”
(Padre Anchieta, sobre os nativos da colônia)
Texto 3:
Sérgio Aguiar Matos , Jornal do Brasil

SÃO PAULO - Nelson Narciso, diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, divulga o potencial e as oportunidades na matriz energética brasileira para investidores de todo o mundo. As descobertas do pré-sal e a competitividade dos biocombustíveis têm redimensionado o interesse do mercado em torno do Brasil, e vão colocar o país num patamar econômico e social ainda mais elevado. Narciso falará amanhã, sobre temas relacionados à questão energética, em sua palestra na conferência do JB Brazil and the Future (O Brasil e o Futuro), nos Estados Unidos.
O Brasil pós-crise, segundo analistas, sai fortalecido. O senhor concorda? Como examina o momento atual da economia brasileira no contexto das recém-descobertas do pré-sal?

O fortalecimento do Brasil é reconhecido por diversos analistas, aqui e no exterior. O país sofreu menos os efeitos da crise global e saiu dela mais rapidamente. Temos uma economia diversificada, estável e vigorosa. A participação do mercado consumidor interno, aliada à consistência da política macroeconômica, tem desempenhado papéis preponderantes para a superação da crise. Ao mesmo tempo, o fluxo de investimentos diretos estrangeiros, contínuo mesmo durante o período mais agudo da crise, e agora crescente, contribui muito com os investimentos internos, públicos e privados, para a aceleração do crescimento da nossa economia com incorporação de inovação tecnológica e desenvolvimento da capacidade industrial. Nesse contexto, o setor do petróleo, que cresceu a taxas extraordinárias desde a criação do atual ambiente regulatório, também cumpriu importante função para o fortalecimento da nossa economia.


Texto 4:
No encerramento da "Semana Sinapse", o economista e ensaísta Eduardo Giannetti, 46, conduziu o debate "O Brasil será sempre o país do futuro?", que teve como fios condutores duas idéias: a noção de país do futuro e caminhos para o futuro do Brasil.
Na palestra, Giannetti disse que compartilha da idéia —otimista— de que o Brasil tem condições de superar seu passado.
"É um mérito manter a esperança por tanto tempo", afirmou após contrapor a condição do Brasil, de país do futuro, com a do Reino Unido. "O inglês não acredita que seu país possa equiparar ou superar seu passado."
O economista considera que o principal desafio para que o Brasil compense os problemas acumulados seja a redução da desigualdade social. "Hoje, quem não tem nada valoriza questões econômicas muito mais do que se a distância para o mais rico fosse menor."
Para Giannetti, professor das Faculdades Ibmec e autor do livro "Felicidade" (Companhia das Letras), o futuro do Brasil deve ser buscado como o produto da tensão entre o desejável e o exequível. "O sonho desvinculado da realidade não vinga. A realidade desprovida de sonho definha."

(O Brasil será  sempre o país do futuro? - da Folha de S.Paulo)

Texto 5:
Numa terra radiosa, vive um povo triste.

(Paulo Prado, em Retrato do Brasil)

Texto 6:
Há, no entanto,um grande inimigo da vitória sobre o viralatismo: a invasão do oba-obismo. Nada está garantido: o crescimento econômico pode não deslanchar, a Copa e a Olimpíada podem fracassar, a abundância do petróleo pode transformar-se em maldição.
Apesar de todas as grandes melhoras recentes, o país continua sendo campeão de desigualdades, apresenta níveis vergonhosos de escolaridade, instituições pouco confiáveis, cidades dominadas pela violência, depredação da fantástica natureza.
Êxito mais duradouro desta vez dependerá de trabalho duro em todas as frentes reconhecidamente indispensáveis para a decolagem. Dependerá da ausência de oba-oba. Não haverá milagres. Nem pessimismo nem euforia levará a lugar nenhum.

(José Murilo de Carvalho, historiador da UFRJ Caderno Mais! – 18/10/2009)
Texto 7:
Oxalá possamos dizer que é  mais fácil viver aqui do que em qualquer outro lugar.

( Maria Alice Rezende de Carvalho, professora de sociologia da PUC-RJ- idem)
Texto 8:
Pátria Minha - Vinicius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não  é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é  desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é  o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é  patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...


Propostas:


PROPOSTA A:

Leia a coletânea e redija sua dissertação a partir da seguinte afirmação:
O país do futuro (enfim?)
(título do Caderno Mais! De 18/10/2009)

PROPOSTA B:
Nascido no Brasil e criado a partir da adolescência no exterior, o personagem retorna ao país já na maturidade. Encontra aqui,  um país  novo, bem diferente daquele que deixou nos anos 70. Redija uma narração em que a personagem depara-se com nuances diferentes das imaginadas antes de pisar em solo brasileiro. A personagem gostou do que viu? Surpreendeu-se positivamente?
Seu texto pode ser narrado em 1ª  ou 3ª. Pessoa.

PROPOSTA C:
“Qualquer coisa importada é melhor, na nossa cabeça, do que as que temos. Somos os primeiros a falar mal de nosso país.”
(Marcelo Coelho, cientista social )

A a partir da afirmação acima, redija uma carta argumentativa, endereçada a Marcelo Coelho, em que você discorda de sua posição com relação ao Brasil.

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