sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Emergentes e a crise global

Depois da crise sistêmica global, muitos especialistas afirmam que a Terra jamais será a mesma. E quando se fala no poder decisório – até há algum tempo associado ao grupo dos países mais ricos do planeta – mudanças tímidas, mas já visíveis começam a despontar na mídia. Nunca se falou tanto do grupo dos Brics. Os emergentes representam uma saída para o caos econômico instalado pós setembro de 2008? O que o mundo tem a perder – e a ganhar - com as políticas adotadas pelos emergentes (ou a ausência delas) hoje tanto na economia quanto nas questões referentes à sustentabilidade do planeta. Reflita sobre as questões propostas a partir dos textos oferecidos na coletânea, utilizando ainda os conhecimentos adquiridos em sua vida acadêmica.


Texto 1:

A quem cabe o desafio?

Por Lisa Elkaim em 11/8/2009

A crise econômica mundial que afeta o mundo desde setembro de 2008 é entendida por Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel da Economia em 2001, como conseqüência de anos de políticas econômicas equivocadas. A revista Época também tratou do tema no mês de abril, afirmando que houve uso indevido de recursos finitos – o dinheiro.
.O século 21 parece viver grandes dilemas e incertezas. No entanto, qual seria o paralelo entre as questões do meio ambiente e da economia?
(...)
Para a crise financeira global, a economia propõe algumas soluções: reformar o sistema econômico, reestruturar a ordem mundial e dar novo papel aos países emergentes, reformar instituições e criar um tipo de organização financeira supranacional. O meio ambiente também propõe suas alternativas, como o uso de energias limpas e renováveis, redução de gases poluentes, tratamento do lixo e da água, preservação dos ecossistemas etc.
Cada um estabeleceu suas prerrogativas e o mundo parece não saber responder a quem cabe o desafio. Antes de responder a esta pergunta, porém, pensemos qual é o ponto em comum para resolver as duas situações de crise.
(...)
Isso não significa, no entanto, que as políticas climáticas defendem a pobreza. A idéia é que as questões globais devem ser pensadas em conjunto. Cometemos um erro ao considerar que a economia e o meio ambiente têm interesses opostos. E isso tem sido levado cada vez mais em conta nos debates e acordos internacionais. O mundo parece estar aderindo à idéia de que há uma relação direta entre economia, alternativas de crescimento e o meio ambiente. E a equação é simples: quanto mais tecnologias o homem desenvolve, mais recursos naturais (sujos e baratos) precisa consumir.
Além da conscientização
A discussão acerca do uso de energias renováveis, lançada por ambientalistas e retomada por economistas, parece ser uma boa saída. Estes recursos, no entanto, representam uma alternativa de alto custo. É preciso criar formas de crescer e aumentar as riquezas sem agredir o planeta. Para tal, o uso desses recursos precisa ser pensado de forma ampla, e não apenas do ponto de vista econômico. Assim, o colapso financeiro poderia revelar uma oportunidade de crescimento econômico movido a energia limpa.
(...)
"É sempre um vai e volta", afirma Schutte. Neste momento, diz o professor, o Estado nacional perde espaço para a governança global. "Não dá para achar uma solução em nível nacional (para essa crise)", afirma.
O professor de finanças da escola de negócios Ibmec, Ricardo José de Almeida, diz que os emergentes estão em uma posição ideal para reivindicar mais poder. Com as economias em crise - segundo divulgou o FMI na quinta-feira (6), as nações desenvolvidas devem ter recuo médio de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 -, EUA, União Européia e Japão precisam que os mercados emergentes consumam seus produtos.
A economia dos países Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) continuará relativamente aquecida. Dentro do grupo, o Brasil terá o menor crescimento no ano que vem (3%), enquanto a China deverá avançar 8,5%.
"É inédito, pode ser um grande momento, e não apenas para políticas de curto prazo", diz o professor do Ibmec. "Com a crise financeira mundial, as empresas multinacionais podem compensar a recessão com bons lucros aqui."


Texto 2:

Brasil caminha para ser um dos maiores da economia mundial, diz FMI

Bruno Garcez
Da BBC Brasil em Washington

"O Brasil está se tornando um dos maiores nomes da economia mundial. E a importância do Brasil na cena internacional, o papel desempenhado pelo presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva), são o que fazem do Brasil mais importante do que o tamanho das cotas", afirmou Strauss-Kahn.
As cotas destinadas aos países que integram o fundo determinam o poder de voto de cada nação dentro do FMI. Inicialmente, as cotas visavam ser condizentes com o peso econômico de cada país, mas atualmente elas não refletem mais o crescente peso econômico das nações emergentes.
No início deste ano, o tamanho da cota brasileira aumentou de 1,4% para 1,7%.
"Isso não mudou muita coisa", reconheceu o diretor do Fundo. Mas acrescentou: "Não estou dizendo que as mudanças de cotas não sejam importantes, porque a cota tem que estar alinhada com a realidade da vida econômica, mas China, Índia e Brasil não estão esperando por uma nova mudança de cotas para ser ouvidas dentro do FMI".
BRICs
Entres demais países que constituem o chamado bloco dos BRICs (formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China), os russos contam com 2,7%; os chineses, com 3,7%; e a Índia, 1,9%.
Em contrapartida, os Estados Unidos possuem 17,1% dos votos, e um país como a Suíça possui 1,6%.
Recentemente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega afirmou, em Washington, que os BRICs concordaram que não fariam novos aportes financeiros ao FMI a não ser que o fundo ofereça instrumentos flexíveis que confiram maior poder aos emergentes.

Texto 3:

Fim da recessão é "mérito" de emergentes

Alemanha, Japão e França tiveram alta do PIB no 2º trimestre. Ação coordenada entre países reduziu duração da recessão Três das maiores economias do mundo deram sinais de que a mais grave recessão global desde a II Guerra Mundial pode ser mais curta do que esperavam os pessimistas. Responsáveis, juntos, por cerca de 13% do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2008, Alemanha, França e Japão voltaram a crescer no segundo trimestre deste ano.
(...)
Mas o mérito da retomada, segundo os analistas, é da China, seguida de outros países emergentes. Com um crescimento em ritmo anual na casa dos 8% e um imenso mercado consumidor, o país ajudou a impedir uma derrocada maior da economia global.
“O papel da China é chave, porque as outras economias, embora já tenham nível de crescimento, é baixo. A China traz para cima a economia mundial, traz para cima os emergentes, que traz pra frente todo o sistema”, diz Rossi.
A influência é patente: segundo o governo japonês, a alta no PIB do segundo trimestre foi consequência direta do aumento nas exportações – em parte significativa, para a China. “O Japão é a economia mais bem posicionada para se beneficiar do crescimento chinês”, diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Seguindo a China, Índia e Brasil também dão ânimo ao crescimento dos países desenvolvidos e acentuam o papel dos emergentes na retomada. “A grande lição dessa crise é que foi a primeira grave recessão que ocorreu num mundo multipolar, com mais atores de peso. Serviu para confirmar que a China tem sim poder de fogo para contrabalançar uma recessão nos EUA, o que isso é um fato absolutamente inédito. E nas próximas décadas isso vai se acentuar. Os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) vão cada vez mais funcionar como contraponto às crises dos desenvolvidos”, afirma Langoni.

www.novojornal.com/economia

Texto 4:

Cientista espera avanço, mas não acredita em decisão rápida

Luana Lourenço, da Agência Brasil

Autor de um dos capítulos do Protocolo de Kyoto, justamente o que trata da redução de emissões de gases de efeito estufa para os países industrializados, o físico Luiz Gylvan Meira Filho, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), acredita que o novo acordo climático global terá que ser bem mais ambicioso que o protocolo e que o processo de negociação desse mecanismo irá muito além da próxima reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, marcada para dezembro em Copenhague (Dinamarca).
O Protocolo de Kyoto determina a redução em 5% das emissões dos países desenvolvidos entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de 1990. Segundo Meira, o acordo é “pífio” do ponto de vista do volume da redução e o regime climático que o complementará tem necessariamente que ser mais rígido. “É uma questão de números. Kyoto disse ‘vamos reduzir 5%’, o que é preciso fazer agora é reduzir 60%”, compara.
(...)
Impasse entre países pobres e ricos
A quatro meses da reunião da ONU, o clima entres os países ricos e os emergentes é de desconfiança, com poucas decisões consolidadas para metas e compromissos em um novo acordo climático pós-2012, quando vence a primeira etapa do Protocolo de Kyoto, e sem encaminhamentos claros sobre ações de financiamento e transferência de tecnologia.
Na avaliação da secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn, há um “ceticismo mútuo” entre os negociadores de países ricos e de nações em desenvolvimento. “Por um lado, os países desenvolvidos argumentam que só o esforço deles não vai ser suficiente, de outro lado, os países em desenvolvimento se perguntam ’se eles não conseguem reduzir nem o que prometeram em Kyoto, o que garante que vão se comprometer agora?’. É uma questão do tipo ‘ovo e galinha’: se uns não derem o primeiro passo, os outros também não darão”, compara.
Até dezembro, estão marcadas pelo menos mais três reuniões preparatórias para Copenhague. Até lá, os negociadores terão que costurar acordos diplomáticos para garantir o consenso na redação e aprovação do texto que sairá do encontro de dezembro. Os esforços prévios têm avançado menos que o esperado, segundo a secretária de Assuntos Climáticos da Embaixada da Dinamarca no Brasil, Tine Lund. “Os mandatos dos negociadores são restritos. Precisamos do nível político para conseguir maior engajamento”, avalia.
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A definição de novas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos e de compromissos mais claros para países em desenvolvimento como Brasil, China e Índia - que já são grandes emissores - está no centro dos impasses. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o mundo precisa reduzir as emissões em 80% até 2050. É preciso agora definir quanto disso caberá aos países ricos e quanto caberá aos emergentes.
“Não existe nenhuma previsão no regime de clima para que o Brasil ou outro país em desenvolvimento assuma metas quantitativas. Isso desrespeitaria o princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas”, enfatiza o conselheiro da Divisão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores, André Odenbreit.
O Brasil e outros países em desenvolvimento condicionam a definição de compromissos - mesmo os voluntários - a garantias de financiamento vindas do grupo de países ricos. Segundo Odenbreit, se o novo acordo climático não esclarecer como será feita essa transferência, os países emergentes não aceitarão discutir ações mais ambiciosas, em nome do desenvolvimento econômico. “Na ausência de aporte financeiro e tecnológico, o regime fracassará ou o preço de ação dos países em desenvolvimento será a continuidade da pobreza”, avalia.
Segundo Suzana Kahn, o Brasil deve apresentar na reunião de Copenhague os primeiros resultados do Plano Nacional de Mudança do Clima. Lançado em dezembro de 2008, o texto só prevê metas voluntárias de redução de desmatamento e não exige redução clara de emissões de outros setores, como indústria e transportes.
“As expectativas das pessoas às vezes são muito grandes, em um ano você não tem condição de fazer grandes revoluções. Muitos dos projetos que estão lá são para coisas de mais longo prazo. De qualquer forma, em relação à redução do desmatamento, temos dados impressionantes”, adianta. O governo brasileiro espera para 2009 a menor taxa de desmatamento da Amazônia dos últimos 20 anos.
Tecnologia e financiamento, os principais obstáculos
Além de desenhar o futuro regime de metas e compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa, durante a reunião de cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, em dezembro, em Copenhague (Dinamarca), os países terão que definir outros pontos do regime climático global, como o financiamento e a transferência de tecnologia de países ricos para que os emergentes possam realizar ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Os dois itens são os mais atrasados até agora, a apenas quatro meses do encontro.
Os países em desenvolvimento condicionam a adoção de compromissos de redução à garantia de apoio financeiro-tecnológico por parte dos ricos, que, em contrapartida, só aceitam transferir o aporte se os emergentes se mostrarem comprometidos com reduções mais ambiciosas. A estimativa é de que os países industrializados precisariam repassar entre US$ 100 bilhões e US$ 160 bilhões por ano às nações em desenvolvimento.
De acordo com o coordenador da campanha de clima do Greenpeace Brasil, João Talocchi, não é uma quantia “impossível”, desde que as mudanças climáticas sejam tratadas como uma prioridade global. “São números viáveis, possíveis de se alcançar, basta ver os trilhões que foram desembolsados para salvar os bancos da crise”, compara.
(...)
O que ainda não está definido é como países com grandes florestas tropicais, como Brasil e Indonésia, poderão ser recompensados se conseguirem evitar a devastação. Alguns negociadores defendem a criação de um fundo com contribuições internacionais voluntárias, outros a geração de créditos de carbono com o desmatamento evitado, e há ainda a possibilidade de uma solução híbrida entre fundos e mercado.

Texto 5:

Fundos 'verdes' crescem mais nos países emergentes
por Andrea Vialli


Os chamados fundos de 'investimentos sustentáveis' , que privilegiam papéis de empresas com boas práticas socioambientais e de governança corporativa, crescem mais nos países emergentes do que no resto do mundo. O patrimônio administrado em fundos com esse perfil cresceu 400% entre 2003 e 2008 e chegou a US$ 50 bilhões no ano passado. Nos países desenvolvidos, essa indústria cresceu 70% no período.
Esse patrimônio pode ser ainda maior, de US$ 300 bilhões, se forem considerados os fundos tradicionais que analisam as variáveis sociais, ambientais e de governança corporativa na escolha dos investimentos. É o que mostra um estudo do International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para investimentos privados.
Foram pesquisados 515 gestores de ações em todo o mundo, sendo que 177 deles estão localizados no Brasil, China, Índia e Coréia do Sul. Quase a metade (46%) das gestoras de recursos nesses países possuem políticas de análise socioambiental dos investimentos – embora apenas 7% dos fundos sejam classificados como ‘sustentáveis’.
“Esse crescimento é fruto de uma visão mais abrangente de sustentabilidade, pois considera investimentos de longo prazo e em companhias mais sólidas, com padrões de governança”, diz Mário Fleck, presidente da Rio Bravo, gestora de recursos mencionada no estudo.



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