terça-feira, 3 de novembro de 2009

A prova da Unicamp

Apresentação da coletânea:

O escritor russo, Dostoievski declarou: Se um grande povo não acreditar que a verdade somente pode ser encontrada nele mesmo, se ele não crer que ele apenas está apto a se erguer e a redimir a todos por meio da sua verdade, ele prontamente se rebaixa à condição de material etnográfico, e não de um grande povo. Uma Nação que perde essa crença deixa de ser uma nação.
O tema da redação é o Brasil. Abaixo, a coletânea aborda várias visões do país e de seu povo em diferentes momentos. Utilize-a para elaborar uma das propostas sugeridas:

Coletânea:

Texto 1:
“Nela, até agora,não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem”.
(...)
“Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute, bastaria, quanto mais disposição para se cumprir nela e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, ou seja: acrescentamento da nossa Santa Fé.”

(carta de pero Vaz de Caminha)

Texto 2:
“...para este gênero de gente não há melhor pregação do que espada e vara de ferro.”
(Padre Anchieta, sobre os nativos da colônia)
Texto 3:
Sérgio Aguiar Matos , Jornal do Brasil

SÃO PAULO - Nelson Narciso, diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, divulga o potencial e as oportunidades na matriz energética brasileira para investidores de todo o mundo. As descobertas do pré-sal e a competitividade dos biocombustíveis têm redimensionado o interesse do mercado em torno do Brasil, e vão colocar o país num patamar econômico e social ainda mais elevado. Narciso falará amanhã, sobre temas relacionados à questão energética, em sua palestra na conferência do JB Brazil and the Future (O Brasil e o Futuro), nos Estados Unidos.
O Brasil pós-crise, segundo analistas, sai fortalecido. O senhor concorda? Como examina o momento atual da economia brasileira no contexto das recém-descobertas do pré-sal?

O fortalecimento do Brasil é reconhecido por diversos analistas, aqui e no exterior. O país sofreu menos os efeitos da crise global e saiu dela mais rapidamente. Temos uma economia diversificada, estável e vigorosa. A participação do mercado consumidor interno, aliada à consistência da política macroeconômica, tem desempenhado papéis preponderantes para a superação da crise. Ao mesmo tempo, o fluxo de investimentos diretos estrangeiros, contínuo mesmo durante o período mais agudo da crise, e agora crescente, contribui muito com os investimentos internos, públicos e privados, para a aceleração do crescimento da nossa economia com incorporação de inovação tecnológica e desenvolvimento da capacidade industrial. Nesse contexto, o setor do petróleo, que cresceu a taxas extraordinárias desde a criação do atual ambiente regulatório, também cumpriu importante função para o fortalecimento da nossa economia.


Texto 4:
No encerramento da "Semana Sinapse", o economista e ensaísta Eduardo Giannetti, 46, conduziu o debate "O Brasil será sempre o país do futuro?", que teve como fios condutores duas idéias: a noção de país do futuro e caminhos para o futuro do Brasil.
Na palestra, Giannetti disse que compartilha da idéia —otimista— de que o Brasil tem condições de superar seu passado.
"É um mérito manter a esperança por tanto tempo", afirmou após contrapor a condição do Brasil, de país do futuro, com a do Reino Unido. "O inglês não acredita que seu país possa equiparar ou superar seu passado."
O economista considera que o principal desafio para que o Brasil compense os problemas acumulados seja a redução da desigualdade social. "Hoje, quem não tem nada valoriza questões econômicas muito mais do que se a distância para o mais rico fosse menor."
Para Giannetti, professor das Faculdades Ibmec e autor do livro "Felicidade" (Companhia das Letras), o futuro do Brasil deve ser buscado como o produto da tensão entre o desejável e o exequível. "O sonho desvinculado da realidade não vinga. A realidade desprovida de sonho definha."

(O Brasil será  sempre o país do futuro? - da Folha de S.Paulo)

Texto 5:
Numa terra radiosa, vive um povo triste.

(Paulo Prado, em Retrato do Brasil)

Texto 6:
Há, no entanto,um grande inimigo da vitória sobre o viralatismo: a invasão do oba-obismo. Nada está garantido: o crescimento econômico pode não deslanchar, a Copa e a Olimpíada podem fracassar, a abundância do petróleo pode transformar-se em maldição.
Apesar de todas as grandes melhoras recentes, o país continua sendo campeão de desigualdades, apresenta níveis vergonhosos de escolaridade, instituições pouco confiáveis, cidades dominadas pela violência, depredação da fantástica natureza.
Êxito mais duradouro desta vez dependerá de trabalho duro em todas as frentes reconhecidamente indispensáveis para a decolagem. Dependerá da ausência de oba-oba. Não haverá milagres. Nem pessimismo nem euforia levará a lugar nenhum.

(José Murilo de Carvalho, historiador da UFRJ Caderno Mais! – 18/10/2009)
Texto 7:
Oxalá possamos dizer que é  mais fácil viver aqui do que em qualquer outro lugar.

( Maria Alice Rezende de Carvalho, professora de sociologia da PUC-RJ- idem)
Texto 8:
Pátria Minha - Vinicius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não  é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é  desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é  o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é  patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...


Propostas:


PROPOSTA A:

Leia a coletânea e redija sua dissertação a partir da seguinte afirmação:
O país do futuro (enfim?)
(título do Caderno Mais! De 18/10/2009)

PROPOSTA B:
Nascido no Brasil e criado a partir da adolescência no exterior, o personagem retorna ao país já na maturidade. Encontra aqui,  um país  novo, bem diferente daquele que deixou nos anos 70. Redija uma narração em que a personagem depara-se com nuances diferentes das imaginadas antes de pisar em solo brasileiro. A personagem gostou do que viu? Surpreendeu-se positivamente?
Seu texto pode ser narrado em 1ª  ou 3ª. Pessoa.

PROPOSTA C:
“Qualquer coisa importada é melhor, na nossa cabeça, do que as que temos. Somos os primeiros a falar mal de nosso país.”
(Marcelo Coelho, cientista social )

A a partir da afirmação acima, redija uma carta argumentativa, endereçada a Marcelo Coelho, em que você discorda de sua posição com relação ao Brasil.

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