domingo, 8 de novembro de 2009

O automóvel

PROPOSTA DE REDAÇÃO:

Com base nos textos oferecidos na coletânea abaixo, redija uma dissertação sobre o tema:

Automóvel: necessidade ou afirmação?

Texto 1:

“O automóvel é, para Baudrillard, um dos mais importantes signos de nosso tempo e seu papel na produção do imaginário tem profunda repercussão sobre o conjunto da vida do homem, incluindo a redefinição da sociedade e do espaço. As cidades não seriam hoje o que elas são se o automóvel não existisse. Os homens acabam considerando o automóvel como indispensável e esse dado psicológico torna-se um dado da realidade vivida. Ilusão ou certeza, o automóvel fortalece no seu possuidor a idéia de liberdade do movimento, dando-lhe o sentimento de ganhar tempo, de não perder um minuto, neste século da velocidade e da pressa. Com o veículo individual, o homem se imagina mais plenamente realizado, assim respondendo às demandas de status e do narcisismo, característicos da era pós-moderna. O automóvel é um elemento do guarda-roupa, uma quase-vestimenta. Usado na rua, parece prolongar o corpo do homem como uma prótese a mais, do mesmo  modo que os outros utensílios, dentro de casa, estão ao alcance da mão.”

(MILTON SANTOS em  “A Natureza do Espaço”)


Texto 2:
O automóvel e o desgaste social
Tatiana Schor - Economista, mestre em Geografia Humana, FFLCH-USP

(...)

O automóvel é outro importante exemplo. Para muitas pessoas, imaginar o mundo sem esta máquina é impossível. Trata-se já de uma necessidade social. Tal como no caso da luz elétrica, a utilização do automóvel vai levando ao esquecimento as formas anteriores de locomoção; hoje, considerando o processo crescente de urbanização, é provável que mais gente saiba ligar um carro do que arrear um cavalo. O gesto de ligar o automóvel é mais simples do que o de arrear o cavalo, apesar do fato de compreendermos melhor o funcionamento da locomoção a cavalo que o de um cada vez mais complicado motor de carro (o mesmo pode ser dito para a luz: é mais fácil acender a luz elétrica do que o fogo, mas o funcionamento do fogo é de mais fácil compreensão do que a geração, distribuição e fornecimento da rede elétrica). Por isso, podemos chamar de invisível o processo que revoluciona os atos e desencadeia inúmeros efeitos sucessivos — pelo fato de que o ato mais simples esconde um funcionamento mais complexo. É neste processo que o sonho (da simplificação da vida) e o desejo (de consumo) tornam-se uma necessidade.
(...)

Esta visibilidade dos limites da utilização do objeto técnico ocorre quando ele deixa de ser um apoio ao desenrolar da vida, passando a ser um entrave. Entrave esse que começamos a observar, por exemplo, com o uso do automóvel na cidade de São Paulo. Esta visibilidade vem do fato de que seu uso como meio de transporte, como objeto técnico, está cada vez mais travado, pois o crescente número de congestionamentos impede seu funcionamento. Como algo natural e orgânico, o automóvel passa a ser vivido como um problema, gerando desconforto e mal-estar, e deixando de ser invisível para tornar-se insuportavelmente visível.

(...)

Esta sociedade tem como fim em si mesmo a valorização objetivada no consumo individual, que, por sua vez, reflete a mesma objetivação na sociedade. Consome-se mais do que se apropria. É um consumo como fim em si, isto é, muitas vezes privilegia o ato da compra ou a propriedade em detrimento da utilidade do objeto a ser consumido. É possível observar na sociedade urbana uma cisão entre apropriação e consumo. O consumo se autonomiza da apropriação inerente a ele, transformando-se em uma simulação do uso que porta outro fim: a ostentação do valor monetário que o objeto comprado representa. Neste sentido, no seu limite, este uso ostentatório transforma-se em consumo do espetáculo da própria sociedade. É o consumo consumindo a si mesmo sem objeto a ser apropriado. Um exemplo quase caricatural desta forma de uso são os colecionadores de Mercedes e Jaguar, que têm mais automóveis na garagem que pessoas na casa. Assim, uma crítica ao consumo simulado é uma crítica ao uso ostentatório.

O espetáculo (Debord, 1992) é o consumo nas suas derivações mais fetichizadas: não há apropriação, apenas contemplação. O automóvel é uma mercadoria que contém em si tanto a apropriação do objeto (sua funcionalidade) quanto seu uso ostentatório, espetacular (suas outras significações). Para podermos analisar o automóvel, com suas determinações relacionadas ao momento histórico atual, é necessário desvendar essa mercadoria em seus matizes e compreender sua relação com o urbano (que é o pano tecido pela modernização).
(...)
Esta é uma forma de estudar a sociedade contemporânea, visto que o automóvel é um objeto, ou melhor uma mercadoria, que nasce com a industrialização e se desenvolve no e para o urbano. O desenvolvimento simultâneo da indústria automobilística e do capitalismo se expressa inclusive nos termos utilizados para designar maneiras de organizar a produção (fordismo, pós-fordismo, toyotismo). Foi através da necessidade de constituição do sistema automobilístico que se direcionou boa parte do desenvolvimento industrial e planejamento urbano. Suas necessidades técnicas impulsionaram a indústria; suas necessidades de espaço e de movimento veloz, como é o caso de São Paulo, redimensionaram o desenho do urbano. O automóvel, tanto construtor quanto destruidor, encanta o homem.


Texto 3:

A cultura do automóvel

Denomina-se Cultura do Automóvel a importância que o veículo particular assumiu nas sociedades modernas no século 20 (...). O carro é o objeto de consumo mais desejado pela sociedade. A publicidade fala do automóvel como um direito universal, uma conquista democrática. Se fosse verdade e todos pudessem se transformar em felizes proprietários desse meio de transporte, o planeta sofreria de morte súbita por falta de ar. Ou, antes, deixaria de funcionar por falta de energia, afinal resta-nos petróleo para duas gerações apenas.

O automóvel não é um direito universal, e sim um privilégio de poucos. Só 20% da população detém 80% dos carros, embora todos tenham de sofrer as consequências.

(...)

Para vender cada vez mais, a indústria do automóvel está sempre lançando novos modelos, novos desenhos e detalhes, assim como a indústria da moda. O automóvel é mais do que um meio de transporte. Ele é concebido como uma jóia, como um roupa cara e especial, agradável aos olhos do dono e daqueles que o vêem. Seus apelos, na estratégia de marketing, abordam desde a velocidade, potência, aceleração, passando pelo conforto de estar dentro da máquina: ar condicionado, direção hidraúlica, vidros elétricos, som de alta fidelidade e até a preocupação com o cheiro de veículo novo.


(Trechos do livreto distribuído pela BHTRANS nas ruas de Belo Horizonte em sua campanha de conscientização)



Texto 4:

Vocês se lembram daquele velho anúncio dos biscoitos Tostines? Era mais ou menos assim: Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Acho que o excesso de automóveis nas cidades brasileiras é parecido com isso. Será que há carros demais nas cidades porque não existe transporte público de qualidade ou os governantes não investem em transporte público de qualidade porque há carros demais e as pessoas não precisam de transporte público?

Deixando a brincadeira de lado, sabemos que o excesso de automóveis nas grandes cidades e a falta de transporte público de qualidade são problemas gravíssimos e altamente complexos, que desafiam os governantes, prejudicam absurdamente a mobilidade urbana e atormentam diariamente as pessoas, causando imensuráveis malefícios sociais e ambientais, bem como grandes prejuízos financeiros à economia.

Sabemos que o Brasil sempre foi um país rodoviarista, que privilegia as industrias automobilísticas com incentivos fiscais, linhas de financiamento para as montadoras, revendedoras e consumidores, entre outras facilidades. Enquanto isso, os congestionamentos aumentam, a mobilidade urbana está cada vez pior e não há investimentos para o transporte público de massa nas grandes cidades, especialmente em metrôs e trens urbanos.

As grandes cidades brasileiras estão abarrotadas de carros, velhos e novos, que causam os irritantes e nocivos congestionamentos diários. As metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo estão prestes a parar, pois as velocidades médias registradas, em grande parte dos dias, estão entre 10 e 15 km/h, com previsão de chegar a 7,5 km/h, daqui a alguns anos.

São Paulo, por exemplo, possui uma frota registrada de 6,2 milhões de veículos, que é responsável por aqueles engarrafamentos recordes que chegam a 200 quilômetros, em determinados dias. Há muitos carros em péssimo estado de conservação que prejudicam ainda mais o trânsito. Cerca de 50% dos veículos de SP estão com mais de 10 anos de idade. Em média, a cada 5 minutos, um carro enguiça e causa 3,5 quilômetros de congestionamento. As principais razões são falhas mecânicas, pane elétrica e pneu furado. Em SP, são registrados 800 novos carros por dia, que ajuda a aumentar a média diária de 144 km de vias congestionadas, no pico da tarde, e os recordes batidos várias por ano. A velocidade nos horários críticos não ultrapassa os 20 km/h. O transporte individual predomina em SP, pois são registrados 1,9 habitantes por veículo, provando, assim, a predominância do automóvel e a carência de transporte público de qualidade.

Não sou contra o automóvel, pelo contrário, gosto muito de possuir um bom carro e acho que todos têm o mesmo direito. O problema é como conciliar e otimizar o binômio automóveis - transporte público. O grande desafio é a criação de um modelo para o uso racional do automóvel e o acesso democrático ao transporte público de qualidade.


Texto 5:

O Calhambeque  - Roberto Carlos
Composição: Gwen Loudermilk / John Loudermilk/ Versão : Erasmo Carlos

-"Essa é umas das muitas histórias
Que acontecem comigo
Primeiro foi Suzy
Quando eu tinha lambreta
Depois comprei um carro
Parei na contra-mão
Tudo isso sem contar
O tremendo tapa que eu levei
Com a história
Do Splish Splash
Mas essa história
Também é interessante"

Mandei meu Cadillac
Pr'o mecânico outro dia
Pois há muito tempo
Um conserto ele pedia
E como vou viver
Sem um carango prá correr
Meu Cadillac, bi-bi
Quero consertar meu Cadillac
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Com muita paciência
O rapaz me ofereceu
Um carro todo velho
Que por lá apareceu
Enquanto o Cadillac
Consertava eu usava
O Calhambeque, bi-bi
Quero buzinar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Saí da oficina
Um pouquinho desolado
Confesso que estava
Até um pouco envergonhado
Olhando para o lado
Com a cara de malvado
O Calhambeque, bi-bi
Buzinei assim o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

E logo uma garota
Fez sinal para eu parar
E no meu Calhambeque
Fez questão de passear
Não sei o que pensei
Mas eu não acreditei
Que o Calhambeque, bi-bi
O broto quis andar
No Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

E muitos outros brotos
Que encontrei pelo caminho
Falavam: "Que estouro
Que beleza de carrinho"
E fui me acostumando
E do carango fui gostando
E o Calhambeque, bi-bi
Quero conservar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

Mas o Cadillac
Finalmente ficou pronto
Lavado, consertado
Bem pintado, um encanto
Mas o meu coração
Na hora exata de trocar
Aha! Aha! Aha! Aha! Aha!
O Calhambeque, bi-bi
Meu coração ficou com
O Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!...

-"Bem! Vocês me desculpem
Mas agora eu vou-me embora
Existem mil garotas
Querendo passear comigo
Mas é por causa
Desse Calhambeque
Sabe!
Bye! Eh! Bye! Bye!"
Arrãããããããããmmmm!

Texto 6:

Perguntas respondidas

"Quem dirige este carro, fez por merecer". Você se sente ofendido com esta frase? Por quê?

O anúncio veiculado no Brasil de um carro de 80 mil reais ou mais, traz uma frase que diz: "Quem dirige este carro, fez por merecer".
Esta frase, no Brasil pode questionar o significado da palavra MÉRITO.
Qual é o seu mérito????
Questiona O QUE SE PODE FAZER para obter o merecimento.
Eu mereço mas não posso.
Eu posso, mas não mereço.
E assim vai.

(resposta de um internauta, ao comentar a campanha publicitária do Ford Fusion em 2008))


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